Baseado em fatos (sur)reais...
Até agora, quando ouvíamos falar de um caso de canibalismo, era mais fácil imaginar algo. A coisa sairia mais ou menos assim:
- Oi.
- Oi! Que bom que você veio.
- ...
- Ah, entra. Desculpa, acho que eu estou meio nervoso. ... Bonita a sua camisa.
- Obrigado. É uma das que eu mais gosto mesmo. Ela cai super bem, o tecido é uma delícia, você vai v... he.
- Que foi?
- Nada, nada. Escuta, bonita essa sua gravata. A gente vai sair? Talvez eu devesse ter vestido alguma outra coisa.
- Não, não. Vamos ficar direto aqui, é melhor. A gravata... não sei, achei que merecia, a ocasião, não acha?
- Acho, tudo bem.
- Eu posso trocar, colocar alguma coisa menos formal, não sei.
- Não, fica assim, está bonito.
- ...
- ...
- Que bom que você veio.
- É, legal.
- Não, é sério. Eu imaginei que talvez ninguém respondesse. Sei lá, uma proposta daquelas, assim.
- É, foi meio forte mesmo.
- Você acha que eu devia ter escrito de algum outro jeito?
- Não, eu gostei de você assim. Quer dizer, gostei do seu jeito no anúncio. Assim, direto. Gostei.
- É, eu achei que era melhor ser assim, direto, sabe? Já dizer na lata. Menos confusão.
- É, melhor mesmo. Mas, é verdade; aquela coisa assim "Se você quiser ser comido", sei lá, quase não respondi. Depois pensei "pô, é isso mesmo, por que disfarçar?".
- Pois é. Vamos tomar alguma coisa? As taças estão ali na sala.
- Vamos, vamos.
- Pensei em champanhe, espero que você goste.
- Gosto sim... E esse plástico no chão... Você está trocando alguma coisa na sala? Reformando?
- Não...
- ...
- Eu só pensei que era melhor... Você sabe.
- Não. O quê?
- Ah, depois. Para limpar... Você sabe.
- ...
- Sua taça.
- Não encosta na minha taça! Não encosta!
Mas agora, quando não achamos mais estranho que um ser humano devore o outro a não ser que este outro tenha gostado da idéia e consentido, as coisas se tornam mais complicadas (ou simplesmente voltaram a ser estranhas), e o romantismo morreu:
- Oi.
- Oi! Que bom que você veio.
- Pois é, não via a hora.
- Ah, entra. Desculpa, acho que eu estou meio nervoso. ... Bonita a sua camisa. Essa coisa assim, vermelha, forte.
- É, é. Escuta, onde vai ser?
- Onde vai ser o quê?
- Ué, cadê as facas? Tem cutelo?
- Não, cutelo não. As facas estão...
- Vamos lá? Vai ser ali na sala?
- É, vai. Vamos tomar alguma coisa? As taças já estão...
- Champanhe? Bom, eu preferia uma cerveja mas tudo bem, serve.
- Você se incomoda se eu colocar uma música para a gente?
- Música? Boa! Tem algo pesado, um rockão?
O dono do apartamento suspira resignado, toma um grande gole de champanhe e coloca o Bach de volta na prateleira.
Até agora, quando ouvíamos falar de um caso de canibalismo, era mais fácil imaginar algo. A coisa sairia mais ou menos assim:
- Oi.
- Oi! Que bom que você veio.
- ...
- Ah, entra. Desculpa, acho que eu estou meio nervoso. ... Bonita a sua camisa.
- Obrigado. É uma das que eu mais gosto mesmo. Ela cai super bem, o tecido é uma delícia, você vai v... he.
- Que foi?
- Nada, nada. Escuta, bonita essa sua gravata. A gente vai sair? Talvez eu devesse ter vestido alguma outra coisa.
- Não, não. Vamos ficar direto aqui, é melhor. A gravata... não sei, achei que merecia, a ocasião, não acha?
- Acho, tudo bem.
- Eu posso trocar, colocar alguma coisa menos formal, não sei.
- Não, fica assim, está bonito.
- ...
- ...
- Que bom que você veio.
- É, legal.
- Não, é sério. Eu imaginei que talvez ninguém respondesse. Sei lá, uma proposta daquelas, assim.
- É, foi meio forte mesmo.
- Você acha que eu devia ter escrito de algum outro jeito?
- Não, eu gostei de você assim. Quer dizer, gostei do seu jeito no anúncio. Assim, direto. Gostei.
- É, eu achei que era melhor ser assim, direto, sabe? Já dizer na lata. Menos confusão.
- É, melhor mesmo. Mas, é verdade; aquela coisa assim "Se você quiser ser comido", sei lá, quase não respondi. Depois pensei "pô, é isso mesmo, por que disfarçar?".
- Pois é. Vamos tomar alguma coisa? As taças estão ali na sala.
- Vamos, vamos.
- Pensei em champanhe, espero que você goste.
- Gosto sim... E esse plástico no chão... Você está trocando alguma coisa na sala? Reformando?
- Não...
- ...
- Eu só pensei que era melhor... Você sabe.
- Não. O quê?
- Ah, depois. Para limpar... Você sabe.
- ...
- Sua taça.
- Não encosta na minha taça! Não encosta!
Mas agora, quando não achamos mais estranho que um ser humano devore o outro a não ser que este outro tenha gostado da idéia e consentido, as coisas se tornam mais complicadas (ou simplesmente voltaram a ser estranhas), e o romantismo morreu:
- Oi.
- Oi! Que bom que você veio.
- Pois é, não via a hora.
- Ah, entra. Desculpa, acho que eu estou meio nervoso. ... Bonita a sua camisa. Essa coisa assim, vermelha, forte.
- É, é. Escuta, onde vai ser?
- Onde vai ser o quê?
- Ué, cadê as facas? Tem cutelo?
- Não, cutelo não. As facas estão...
- Vamos lá? Vai ser ali na sala?
- É, vai. Vamos tomar alguma coisa? As taças já estão...
- Champanhe? Bom, eu preferia uma cerveja mas tudo bem, serve.
- Você se incomoda se eu colocar uma música para a gente?
- Música? Boa! Tem algo pesado, um rockão?
O dono do apartamento suspira resignado, toma um grande gole de champanhe e coloca o Bach de volta na prateleira.
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