Apesar de liberal em diversos assuntos, tenho encontrado cada vez mais temas em que me descubro conservador, tradicional.
Sinto pelos hábitos que caíram em desuso e cuja ausência faz a humanidade um pouco pior como, por exemplo...
Duelar com oponente
Propaganda inteligente
Sexo com parente
Rima inconseqüente
(Acredito até em métrica e rima rica. Eventualmente em qualidade também. Eventualmente.)
Sou favorável também à preservação do português padrão na comunicação (ainda que suspeitando do meu próprio uso do mesmo como instrumento de poder, mas isso é conversa para outro dia). Conservador que sou, acredito em crase, vírgula e conjunções diversas (acreditar não me isenta de meus próprios pecadinhos ocasionais, claro).
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O que nos traz à questão da semana, a música da propaganda do automóvel Sentra. Sim, o temível "
não tem cara de tiozão".
Lembremos, a letra fala que o carro "
não tem cara de tiozão, mas acelerou meu coração". Bom, se entendermos que "
não tem cara de tiozão" é um atributo positivo (não temos razão para imaginar o contrário) e que "
acelerou meu coração" também o é, o que diabos faz o "
mas" ali?
Enquanto conjunção adversativa (hein, hein?) ele -- o "
mas" -- deveria aparecer caso a segunda frase tivesse sentido contrário à primeira, caso a segunda fosse algo que não se esperasse em razão da primeira, o que não acontece.
A Zel surgiu com uma hipótese interessante. Um trecho maior da letra traz "
Mas será que é pra mim, algo tão moderno assim? Não tem cara de tiozão, mas acelerou meu coração". Quem nos conta a história é um cara conservador, antiquado, tiozão. Um cara que só gosta de carro
com cara de "tiozão". Assim,
apesar do carro não ter cara de tiozão, tocou o coração do elemento.
Faz sentido, admito. Mas quando junto meu otimisto costumeiro, a qualidade média da propaganda exibida atualmente e a qualidade do português dos formandos atuais, tendo a achar que a letra em questão foi só feita por um gramaticamente inabilitado mesmo.
Mas e você? Dê sua opinião, mande sua cartinha.