quarta-feira, dezembro 27, 2006

Fugide

Quando as únicas marcas de carro que tínhamos no Brasil eram os 4 cavaleiros do apocalipse, Chevrolet, Fiat, Ford e Volks, eu não tinha uma preferida. Havia alguma simpatia pela Ford, muito leve, provavelmente porque gostava do Escort que tínhamos.

Mas se não tinha uma marca preferida, claramente tinha uma odiada, repudiada: Volkswagen. Os caras conseguiram passar do Passat seu último carrão na minha humilde opinião, para uma série de carros feios, sem personalidade, e que custam "pelados" mais que os concorrentes mais bonitos e cheios de opcionais.

Estou certo de que boa parte das vendas de carros da Volks ainda se dá pela fama que a marca tinha há 25 anos de ser carro "que não dá oficina". E hoje eles vendem carros de plástico (coisa em que a GM também se especializou), feios e caros.

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Como se pode notar, minha rejeição permanece a mesma, mas atualmente tenho algumas simpatias mais claras em se tratando de marcas de carro. Por exemplo, Peugeot. O 206 trouxe algo completamente diferente do que tínhamos até então. Finalmente um carro bonito.

Não vou discutir termos técnicos ("ah, mas ele vibra") ou psicológicos ("ah, é carro de mulher!" Sei, carro bonito é de mulher... Homem tem que ter carro feio? Homem é burro?).

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Mas alguém me diz como foi que aprovaram esse nome do novo modelo, Escapade? Alguém na França sugeriu, eles na Peugeot daqui ficaram com medo de contradizer a matriz e a agência daqui estava fechada em um mês sabático.

Aí, para completar, na hora de desenvolver a campanha alguém soltou um "Escapade, para você escapar" só para descontrair, uma piada antes de entrar no clima, mas o chefe não entendeu a piada, gostou, e ficou essa mesmo.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Pinochet

Aproveitando que o velho finalmente morreu, vamos conversar um pouco sobre essa idéia que acabou ficando segundo a qual o ditador foi filho da puta na repressão mas salvou a economia do Chile. Bom, conversar é modo de dizer; segue texto do Gregory Palast, extraído de "A Melhor Democracia Que o Dinheiro Pode Comprar"...


O Chile pode comemorar algum sucesso econômico. Mas isso foi resultado do trabalho do presidente Salvador Allende, que salvou a nação, milagrosamente, dez anos depois de ter sido assassinado a mando de Pinochet.

Estes são os fatos. Em 1973, ano em que o general tomou o governo, o índice de desemprego no Chile era de 4,3%. Em 1983, após 10 anos de modernização e livre mercado, o desemprego chegou a 22%. O salário real caiu cerca de 40% sob o regime militar. Em 1970, antes de Pinochet subir ao poder, 20% da população chilena vivia na pobreza. No ano em que o ?presidente? Pinochet deixou o cargo, o número de destituídos havia dobrado para 40%. Que milagre!

Pinochet não destruiu a economia do Chile sozinho. Foram precisos nove anos de trabalho duro das mentes mais brilhantes da academia, aquela corja de trainees de Milton Friedman, os Garotos de Chicago. Seguindo os feitiços teóricos, o general aboliu o salário mínimo, cassou os direitos trabalhistas negociados pelos sindicatos, privatizou a previdência social, acabou com todos os impostos sobre renda e lucro, fez cortes drásticos no funcionalismo público, privatizou 212 estatais e 66 bancos e produziu superávit fiscal. O general empurrou a nação adiante na trilha ?neoliberal? (livre mercado), no que seria logo seguido por Thatcher, Reagan, Bush, Clinton e o FMI.

Mas o que aconteceu realmente no Chile? Livre da presença opressiva da burocracia, dos impostos e dos sindicatos, o país deu um grande salto... para a bancarrota. Após nove anos de medidas econômicas ao estilo de Chicago, a indústria chilena definhou e morreu. Em 1982 e 1983, o produto interno caiu 19%. Isso é recessão. A experiência do livre mercado estava acabada e não tinha sobrado nenhum tubo de ensaio inteiro. O chão do laboratório estava forrado de sangue e cacos de vidro.

Ainda assim, com uma ousadia extraordinária, os cientistas loucos de Chicago declararam vitória.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado do presidente Ronald Reagan divulgou um relatório conclusivo: ?O Chile é um estudo de caso sobre uma gestão econômica sadia?. O próprio Milton Friedman cunhou a frase ?o Milagre Chileno?. O economista Art Laffer, discípulo de Friedman, vangloriava-se de que o Chile de Pinochet foi ?um exemplo do que a economia supply-side pode fazer?.

Certamente. Para ser mais exato, o Chile foi um exemplo de desregulamentação completamente fora de controle. Os Garotos de Chicago convenceram o governo militar de que o fim das restrições aos bancos nacionais iria libertá-los para atrair o capital estrangeiro, que financiaria a expansão industrial (uma década depois, tal liberalização do mercado de capitais se tornaria condição sine qua non para a globalização). Seguindo esse conselho, Pinochet vendeu os bancos estatais ? por um preço 40% abaixo do ?book value?, o valor contabilístico ? e eles caíram rapidamente nas mãos de dois conglomerados imperiais controlados pelos especuladores Javier Vial e Manuel Cruzat. Com os bancos nas mãos, Vial e Cruzat drenaram dinheiro para comprar todas as indústrias que podiam ? e então alavancaram esses ativos com empréstimos de investidores estrangeiros ávidos por conseguir uma fatia do bolo estatal.

E assim as reservas dos bancos foram entulhadas com títulos podres de empreendimentos afiliados.

Pinochet deixou os especuladores à vontade por muito tempo. Ele foi convencido de que o governo não deveria interferir na ?lógica? do mercado. Em 1982, o jogo financeiro no Chile havia acabado. Os grupos de Vial e Cruzat ficaram inadimplentes. Indústrias foram fechadas, a previdência privada não valia mais nada, o câmbio teve uma síncope. As greves e os protestos de uma população faminta e desesperada demais para temer os fuzis fizeram Pinochet mudar o rumo da economia. E ele chutou seus queridinhos experimentalistas de Chicago.

Ainda de maneira relutante, o general ressussitou o salário mínimo e devolveu aos sindicatos a condição de negociar coletivamente os direitos trabalhistas. Pinochet, que havia dizimado o funcionalismo público, aprovou um programa para a criação de 500 mil empregos. Seria o equivalente, nos Estados Unidos, ao governo contratar 20 milhões de pessoas. Em outras palavras, o Chile saiu da recessão graças ao maçante e antiquado remédio keynesiano ? 100% Franklin Roosevelt, 0% Ronald Reagan. O governo militar instituiu uma lei restringindo a entrada do capital estrangeiro ? uma das poucas remanescentes até hoje na América do Sul.

As táticas do New Deal resgataram o Chile em 1983, mas a recuperação de longo prazo e o crescimento do país desde então são resultado ? tape os ouvidos das crianças ? de uma boa dose de socialismo. Para salvar a previdência social do país, Pinochet estatizou os bancos e a indústria numa escala inimaginável para o socialista Allende. O general simplesmente desapropriou à vontade, oferecendo pouco ou nada em troca.

Apesar de a maioria dessas empresas acabar voltando, após um período, para a iniciativa privada, o Estado continuou a ser proprietário da indústria do cobre.

A especialista em metais da Universidade de Montana, dra. Janet Finn, afirma: ?É absurdo retratar uma nação como exemplo do milagre da livre iniciativa quando o motor da economia continua nas mãos do governo? (e não apenas nas mãos do governo. Uma lei de Pinochet, ainda em vigor, dá aos militares 10% dos rendimentos estatais com o cobre). Do cobre vêm entre 30% e 70% dos ganhos do país com exportações. Essa é a moeda forte que construiu o Chile de hoje, a produção das minas da Anaconda e da Kennecott, estatizadas em 1973 ? o presente póstumo de Allende a seu país.

O agronegócio é a segunda locomotiva da economia chilena. E esse é outro legado do governo de Allende. Segundo o professor Arturo Vasquez, da Universidade Georgetown, a reforma agrária de Allende, ou seja, o desmantelamento dos estados feudais (que Pinochet não conseguiu reverter totalmente), criou uma nova classe de lavradores-proprietários. Aliada a empresas e cooperativas, essa classe gera hoje um montante de exportações capaz de rivalizar com o cobre. ?Para conseguir um miolagre econômico?, diz Vasquez, ?talvez seja necessário ter antes um governo socialista que faça a reforma agrária?.

Então é isso. Keynes e Marx, e não Milton Friedman, salvaram o Chile.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

171

De volta enfim. Tá, já faz uns 10 dias que voltamos, mas quem está contando? Eu sou assim, preciso de tempo... :)

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E a Zel já comentou uma música do Jorge Versinho que a gente ouviu outro dia, mas ela não deu destaque ao pedaço da música que para mim é a coisa mais genial da arte do embroma-parceiro que eu já ouvi. Então vamos lá, de novo:

não se prenda
a sentimentos antigos
tudo que se foi vivido
me preparou pra você

não se ofenda
com meus amores de antes
todos tornaram-se ponte
pra que eu chegasse a você

(monalisa, jorge versilo)

É muita cara de pau! O cara é um gênio do 171 amoroso. Eu não teria coragem. Versinho é rei.